terça-feira, 11 de outubro de 2011

A rua

O mistério está aqui dentro,
e em todos: em mim, em você.
Mas, se eu não for à rua,
não posso captá-lo
porque lá perambula outro mistério.
Se não for à rua,
meu mistério será mistério truncado,
apenas um mistério gozoso.
O mistério doloroso está lá na rua,
remexendo no lixo ou passeando no automóvel,
no olhar de criança e no olhar de esfinge,
na boca cheia e no coração vazio.
Todos carregam a agressividade engatilhada.
A esperança não brilha mais nos rostos,
esboçados para a alegria.
Quase ninguém descobre seu mistério,
menos ainda o dos outros.
O mistério está aqui dentro
mas, se eu não for na rua,
não posso captá-lo.
E o mistério da rua
é mistério de soliedariedade na culpa
por causa da nossa divisão, da tua, da minha.
Este mistério doloroso
completa e corrige meu mistério interior.
Eu preciso da rua, porque lá está meu irmão.
O grito da rua morre na rua.
Mas eu posso ouvi-lo no silêncio do meu coração.

(Joaquim Sfredo)

Texto retirado do livro: Pessoa Humana e Religião Vol. I (livro de Ensino Religioso para o 2º grau), de Roque Brugnara



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